UMA CARTA ATRASADA.
Hoje criei coragem. Peguei uma folha de papel almaço
e escrevi uma carta ao meu amor que morreu em 1980.
Faz 30 anos que ensaio em dizer o que até hoje sinto.
Disse que estou velho e perdi a beleza jovial, que continuo
só e que nunca fui capaz de amar outra pessoa. Disse que
não entrei na faculdade, que sou tão pobre e não vejo a
hora de morrer.
Dizem que ninguém é insubstituível. Descreio. Porque,
quando olho a foto do 'santinho de luto' em minha carteira,
corro remexer no meu saquinho onde guardo os cartões
e cartas que por 5 anos ela me enviou... e fico revivendo
aqueles momentos sem perder nenhum detalhe.
Encontrei muitas mulheres legais que outras cartinhas e
cartões me enviaram. Com isso, engraçado, mais senti
a falta dela, mais viva na lembrança ela me vinha.
Pelo menos, penso, posso dizer: "já tive um grande amor".
Um dia alguém vai ler esta carta que guardarei na carteira
antes de pô-la no lixo ou queimá-la, não sei, e rirá ao
ler o destinatário "À Anita - Cantinho do Céu". Em seguida,
dirá: "Que loucura! Que paixão mais idiota!"
Mas quando notar a carta junto com o santinho
de luto, entenderá que fui entregá-la em mãos, que já
não preciso de mais nada e não esperará pra dizer tudo
o que pensa a quem ama, ao vivo, sem deixar pra depois.
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