quinta-feira, 20 de maio de 2010

A viúva do 99

A viúva do 99


Duas casas geminadas, idênticas até na cor.
A viuva do #99 era apaixonada pelo sujeito do #66 e,
invejosa, até os móveis e demais utensílios domésticos
copiava. Só faltava seu Romeu pra completar
(sabe como são aquelas pessoas de olhar penetrante
que reparam nos mínimos detalhes de seu lar?... a própria).
...

Ele saiu na sexta de manhã pra trabalhar. À noite
foi com uns amigos de balada a um tal Empório da Bebida.
Muitos birinaites e um quase coma alcoólico.
...

No domingo, 10 da noite, apareceu no lar completamente
torto e, com a visão um tanto nublada, entrou na casa da
viúva cantando alegremente e soltando catarradas
sem o mínimo pudor.

...

A viuva havia colocado as placas de ponta-cabeça.
Quem sabe?
...

-- Mulher! Ô mulher?

A viúva pulou da cama. Cena que ensaiara várias vezes.
Vestia uma camisola azul celeste hiper-transparente
(muito esperta, hem!).

-- Ei, tua casa é ali do lado... mas se quiser dormir aqui
 essa noite...
-- Não, não... sou vira-lata, mas tenho dona e casa.
 Desculpa dona.
...

E acompanhou o Romeu até o portão já esfregando
as mãos...
...

Adentrou sua casa e foi direto ao quarto. Apalpou,
no escuro, as cobertas. Deitou-se ao lado da esposa
que não tinha o costume de usar calcinha e...

-- Meu tesão se multiplica por dez quando você fica
quietinha e finge que está dormindo. Tô cansado de ouvir
seus uis e ais... a vizinha pensa que não sei que ela fica
com os ouvidos na parede, ah-ah. Você tá tão geladinha...
Ih! já gozei! Sou rápido no gatilho, amor.
...

Pegou o cobertor e recobriu a esposa, Virou-se ainda vestido
e dormiu.

...

Sua esposa havia morrido há 2 dias. Julieta, ao lado, dançava
pelo quarto escuro. O sangue fervia-lhe nas veias ao som
quase silencioso de uma coletânea de boleros que colocara
pra rodar. Enfim, ufa, uma nova perspectiva.








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