EM ALGUM LUGAR DO FUTURO

EM ALGUM LUGAR DO FUTURO


um dia
quando você
no escuro do quarto se trancar

lembrarás dos nossos antigos prazeres
das conversas no banco do jardim
lembrarás da primeira vez
do calor que me saia
quando libertina se fazia
e acendias o estopim

sairás batendo a porta
me procurarás num olhar
não acharás mais nada
chorarás enfim

dirás às pessoas
o quanto és feliz
no porre que te socorre
se relembrares
da felicidade perdida num triz

pode ser no ar
pode ser no mar
acharás uma estrada
seguindo as pegadas
do que restou
no jogo das palavras
outras
que o tempo te ensinou
que se perdem esquecidas
no xadrez sem-fim
sem ganhador
de cicatriz de dor

lembrarás das brincadeiras
das piruetas
das bobagens ao pé do ouvido
na cama cheiro de jasmim
da mulher do marido
do relógio maldito
despertando-nos do sono  amante
lembrarás
do amargor da boca
de cada objeto
de cada gesto
que fizeste pra mim

pode ser no ar
pode ser no mar
qualquer lugar
onde estiveres
o futuro pode esperar
no museu da memória
se me prendo a esta lembrança
é porque deixo-me levar
neste presente
neste átimo silente
tua ausência fazer-me te buscar

pode ser no ar
pode ser no mar
qualquer lugar
uma estrada vazia
tua mão a minha guiar


***