segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quando tenho uns trocos

Quando tenho uns trocos


Quando tenho uns trocos fico meio filantropo,
histérico 'ao tudo ao mesmo tempo agora'.
Penso nos bebês com sede láctea e na garota
que me pediu 1 real. Me isolo de tudo como se
fosse a última vez que eu tivesse uns trocos.
Coisa de pobre dizem os afortunados, acostumados
a estes raros momentos. Acho que a piedade reside
em mim como um animal feroz, indomável., que foge
duma sela à busca de seu habitat impossível. Quando
volto à jaula, sem grana, junto-me aos que na multidão
quiseram viver com meus míseros e efêmeros sorrisos.
Morro de pena de mim quando, no primeiro trem,
centenas de jovens desembarcam após suas baladas,
e me desnotam apenas por eu me achar o cara mais
imprestável do mundo, que transou com uma fulana
num hotel pulguento de beira de estação pra enganar-se
mais uma vez e recuar no tempo em que uma dose de
uísque e um baseado não me deixavam chorar pela
pobreza humana. Só a vida me ensina que, pra ser um
seguidor da felicidade,  hei muito de chafurdar na merda.

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