Eu queria morrer no dia de Carnaval. Não na cidade, mas num lugar ermo
após o crepúsculo da tarde. E que, pela última vez, eu visse os pássaros
pousarem nas árvores e inda me alegrasse com o som dos bichos noturnos,
ali, barulhentos como um fórum e meu julgamento derradeiro.
Antes de morrer que eu confeccionasse uma Máscara Verde com folhas
de bananeira e me olhasse no espelho, descontente, num reverso de alegria
fútil e me perguntasse: quem sou eu? Penso que num instante eu teria a paz,
pois os amigos e parentes que até então eu tivera -- os perdera nas estradas e,
creio, nenhum deles derrubaria uma lágrima sequer por mim.
Nunca fui benquisto, mas sempre mau visto por não fazê-los me
entender. Não, eu não gostaria de ter um cão vira-lata com aquele
olhar carente na entrada da porta pra me contrariar: o mesmo olhar
que sempre vi em santos de barro... animados...
Nada me causaria estranheza, enquanto nas avenidas, com os desfiles;
e nos salões, com os bailes -- muitos estariam se divertindo, enquanto eu,
com as mãos, estaria cavando. E, já mascarado, eu começasse a puxar a terra
sobre minha cabeça. Quiçá eu inda olhasse ao redor da luz amarelecida e
vislumbrasse satisfeito os insetos gravitando ao redor dela.
Mas que, pela última vez -- por paradoxal que possa parecer -- eu cantasse
só pra mim uma música que marcou minha meninice: "Máscara Negra".
Sei que ninguém entenderia meu inútil último ato duma peça que, sendo
protagonista, apenas sentia-me mero expectador.
"Do pó vim. Ao pó volto". Gostaria que esse fosse o epitáfio escrito numa
tabuleta com barro. Mas, talvez, creio, com tanta preocupação em morrer
feliz --,eu nem me lembrasse disso... Afinal eu morreria no Carnaval.
**
após o crepúsculo da tarde. E que, pela última vez, eu visse os pássaros
pousarem nas árvores e inda me alegrasse com o som dos bichos noturnos,
ali, barulhentos como um fórum e meu julgamento derradeiro.
Antes de morrer que eu confeccionasse uma Máscara Verde com folhas
de bananeira e me olhasse no espelho, descontente, num reverso de alegria
fútil e me perguntasse: quem sou eu? Penso que num instante eu teria a paz,
pois os amigos e parentes que até então eu tivera -- os perdera nas estradas e,
creio, nenhum deles derrubaria uma lágrima sequer por mim.
Nunca fui benquisto, mas sempre mau visto por não fazê-los me
entender. Não, eu não gostaria de ter um cão vira-lata com aquele
olhar carente na entrada da porta pra me contrariar: o mesmo olhar
que sempre vi em santos de barro... animados...
Nada me causaria estranheza, enquanto nas avenidas, com os desfiles;
e nos salões, com os bailes -- muitos estariam se divertindo, enquanto eu,
com as mãos, estaria cavando. E, já mascarado, eu começasse a puxar a terra
sobre minha cabeça. Quiçá eu inda olhasse ao redor da luz amarelecida e
vislumbrasse satisfeito os insetos gravitando ao redor dela.
Mas que, pela última vez -- por paradoxal que possa parecer -- eu cantasse
só pra mim uma música que marcou minha meninice: "Máscara Negra".
Sei que ninguém entenderia meu inútil último ato duma peça que, sendo
protagonista, apenas sentia-me mero expectador.
"Do pó vim. Ao pó volto". Gostaria que esse fosse o epitáfio escrito numa
tabuleta com barro. Mas, talvez, creio, com tanta preocupação em morrer
feliz --,eu nem me lembrasse disso... Afinal eu morreria no Carnaval.
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