sábado, 24 de agosto de 2013

A rua dos desgraçados



Projeto uma rua sem saída com meu nome
Aonde o ploct-ploct  das muletas
Perpassa e volteia  o coreto
De bonecos risonhos e estáticos
Músicos que nas suas estantes
Têm os olhares mirando as partituras
De um réquiem tenebroso e sombrio

Na minha rua quero os eremitas
Os excluídos doentes com suas máscaras naturais
Num vaivém teatral sem sentido
Uma coreografia  manca
Desregrada à estupidez da condição racional

Rua de prantos inacessível às línguas de aço
Marco zero do esgoto fétido
Em que os porcos chafurdam
Os urubus disputam a carne putrefata
Os cães  desconjuntados os vômitos
Dos transeuntes ruminantes cabisbaixos
Enquanto outros de feridas roxas incuráveis
Entocados como ratos albinos
Escondem-se em casas úmidas
De corredores labirínticos embolorados
Amuados como os próprios olhares
Como  que silenciosamente dissessem:
“Mundo não nos veja
Apenas aguardamos a morte carnal”

Na minha rua, Rua dos Desgraçados
Há uma fé silente e inata
Nela trafego diuturnamente castigado
Pra nunca perder
O que a desgraça individual revela:
Sofrer demais e   escandalizar-me
Já não me basta
Basta-me apenas o asco que sinto de mim mesmo

Todos Infelizes!
Todos Estúpidos!
Todos hipócritas!
Todos estereótipos de bom senso!
Desconhecem a rua com o meu nome!
Notem!
A Rua da Piedade é noutro endereço!



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