Apenas um homem solidário.
se caminhando por uma trilha deserta,
distante do espelho de minha solidão,
eu estivesse esfomeado e sedento,
com apenas dois pães na bolsa e
um copo d'água na vasilha, e
o inimigo me cercasse tão exausto
e sedento quanto eu -- eu jamais me
lembraria do mal que ele me fez:
um pão e meio copo d'água a ele eu daria.
se na mesma trilha, mais à frente, um
desconhecido ao relento, descamisado
na noite fria, me pedisse metade de meu
cobertor -- meu calor com ele dividiria.
pode ser que nenhum dos dois fizessem
isso por mim, mas eu os perdoaria,
entenderia
a crueza de quem se vê em imagem,
duas cópias, seres análogos a mim,
mas que não tiveram coragem
de, num ato, voltarem a ser gente.
e se como eu tão sós se sentissem,
pediria que me seguissem, mesmo
que, lá na frente da trilha inclemente,
metro a metro soubessem que manso
eu morreria sem fome, sem sede
na trilha de um olhar ao redor,
invisível e retro.
(1989)
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