DESABAFO URGENTE

DESABAFO  URGENTE

 NUM DIA NEUTRO

não acho um tema

quero fazer um poema

pareço peixe na piracema

que não consegue

subir os degraus

que saraus

me restam de liberdade

se já não crio nada de verdade

no meu reino intelectual

cai um rei de copas

um de paus,

na minha cabeça

que fica com as

espadas de ouro

num aclive intransitável

dum jogo que antes de ser

fui derrotado

ó que máxxxima alienação

ó que cabeça explosiva

ó que versinho à toa

soa

badalando nos confins da china

ó que sina

ser tupiniquim iletrado

numa plêiade globosférica

e aquela histérica

nem tá aqui pra me inspirar
...

não, não é uma musa

a musa já dorme no museu,

não, não é um muso

não tenho ídolo, meu

é a porra da inspiração

que pegou um avião

e nem se despediu.

vou escrever sobre o quê

já sei

sobre não escrever

quando se está a fim de

hum...

um olhar meticuloso

na parede embolorada

vejo imagens

e faço caretas no espelho

dói meu joelho

(meniscos)

caso contrário eu iria

até o fim do mundo

correndo nu

resgatar

a deusa enjaulada

no mausoléu

que um dia me disse

que se tivesse asas

faria um ninho no meu telhado

e um buraquinho no forro

só pra me espiar

(gracinha ela, hein?)

ainda bem que eu tenho

uns rascunhos

de mil novecentos e bolinha

pra comparar

com o que escrevo hoje

e reescrever uns textos inemendáveis

vou dormir. ponto

mas  no poema

que amanhã escreverei

vou me suplantar

com versos e frases geniais

porque este texto

pra mim

tá a mesma bosta de sempre

ei!

antes vou estudar um pouco de gramática

que é a bíblia do escritor
já dizia meu professor
que poeta tem dentro de si um ator
que atua em muitos palcos sem sair do lugar
 fim