sexta-feira, 27 de agosto de 2010

feliz aniversário pra mim.




hoje em mim principia
até uma alegre poesia
duma sátira de vida
mas me perdi na caligrafia
tropeçando pelos versos
que de tão irônicos
deu-me vontade de chorar

pois tudo que antes eu sentia
desde o começo deste milênio
sei lá
 até o ar puro duma floresta
em festa a meu aniversário
se fez em gás carbônico
e nem consigo respirar,
até pareço um coxo
pelas esquinas
sofrendo com as sinas
de pessoas que não me veem
nem se detêm
aos meus poemas cambaleantes
que em instantes
se perdem meio à poluição
deixando-me dúbio
se sigo ou não à procissão
de carros velozes
que ao estacionarem
nas garagens de um  findo dia
brecam meus motivos
à uma existência tola
de todas as casas
de todo lar
que é meu mundo

um cão vira-lata
abana o rabo pra mim
penso em acompanhá-lo
de repente me dá um estalo
penso que posso
ser o melhor amigo do homem
ser o lobisomem
o frank
a enxotar toda miséria
que não reside em bens
mas nas cabeças
que rodeiam o lixo social
feito cineral
que o vento espraia

invejo a trupe dos saltimbancos
invejo a gangue dos excluídos
já que excluo a mim mesmo
do fétida engrenagem das coisas,

do bem mais precioso que tenho
às vezes desdenho
como um ser ímpar
que nunca teve um par
mas muitas marias inventadas
em noites sós
caladas
à espera dum milagre
pra que todas venham
acompanhadas de gente estranha
tragam um bolo de aniversário
e cantem
o parabéns pra você
pra mim assim
sem porquê
sem saberem quem sou ou o quê

e que me vejam
acender mais um cigarro
sem babados nem rapapés
que coloquem um rock antigo pra rolar
dum tempo que eu era mais feliz

até aqui chegar
aos 54 anos
e na frente do espelho
 eu diga:
parabéns pra mim
descanse hoje
tens uma grande jornada ainda
mas não serão rastros na areia
já que sua vida
são palavras benditas e malditas
mal ditas na ceia
que hoje vi-me contemplar
com espíritos
que povoam meus ouvidos
dizendo-me
escreva palhaço
interpreta vagabundo
o palco é seu
seja rápido
que o circo é itinerante
,
meus rascunhos estão embolorados
sou pedra que não cria limbo
sou um cara comum
na comunidade
encantoada
numa toada
dum filme que me vem à tona:
'canta criança'
embale o sonho enquanto pode
no colo da vida vivida
que num sorriso fugaz
sempre me faz
lembrar que eu existo
que eu insisto
na mesma tecla
pra ter a premonição
de que um dia serei feliz

FELIZ ANIVERSÁRIO PRA MIM
 que nem um poema nesta data
 foi capaz de escrever



***















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