7 de setembro -- ah, independência!
O príncipe regente D. Pedro hoje bradaria à sua comitiva
"dependência e sorte!", às margens de um riacho do Ipiranga
totalmente poluído na desurbanização do entorno entre
cortiços, favelas, prédios onde residem, pasmem! até paulistas.
Aí, entraria num dos veículos oficiais de chapa branca, pagos
pelos tributos do povo, e sairia em carreata ao aeroporto
de Congonhas pra outra capital com seus puxa-sacos
sanguessugas tremulando bandeirinhas vermelhas de uma
oposição inexistente. Viva o Brasil! Viva! Viva os privilégios,
as aposentadorias gordas dos que mantiveram as benesses
dos tempos das capitanias hereditárias. Hoje, lá no Ipiranga,
tem um grande marco, uma grande praça onde vejo desocupados
darem milho aos pombos, famílias empunhando câmeras fotográficas,
celulares que tiram fotos, e alguns espichados lendo um livro.
Acho que, desde o grito, houve uma centralização e migração
de povos para São Paulo; em consequência vieram às indústrias,
mais povos estrangeiros, que abarrotaram o paraíso paulista.
E trouxeram os prós e contras de uma invasão pacífica. Agora,
em 2010, vejo pessoas como formigas indo e vindo, invadindo
áreas de manancial, construindo ali seu barraco e expandindo
às queimadas, cortando a mata como saúvas, abrindo clareiras
na desnatureza em curso. Fazer o quê? Hoje, o MST está
na estrada com os olhos cegos do governo. Aproveitadores
anexam fazendas (ditas improdutivas), constroem ali uns barracos,
ganham seu pedaço de chão, depois os vendem e voltam pra
estrada. Acho que a terra, na verdade, não é de ninguém, mas
devia haver um plano sério de assentamento para pessoas
trabalhadoras e sérias. Por outro lado, noto que no meu país
tudo é feito nas coxas desde o famoso "grito". Somos, hoje,
a oitava economia do mundo e a previsão é a de que em uma
década seremos a quinta. Hoje, aceitamos que uma Bolívia da vida,
anexe uma usina de gás sem a mínima satisfação. Ah, e os "bunda
mole" lá da maior indústria deficitária do país, Brasília, enfiaram
o rabo entre as pernas, afinaram, com se diz na gíria.
Ah, se fosse com os Estados Unidos... Nesse ponto invejo
os gringos que tem leis que funcionam sem acepção de
pessoas, que têm o saco roxo, e vergonha na cara.
Cadê os militares, pergunta-me um cara. Respondo,
com jeitinho brasuca, que devem estar preocupados com suas
aposentadorias vitalícias, que devem estar arquitetando um
plano de proteção bélica à Amazônia e Pantanal, invadidos
por extrativistas de madeira nobre, por laboratórios japoneses,
americanos e outros que (não é piada), patenteiam, na fauna e na
flora, produtos só encontrados por estas bandas. É o cúmulo!
Hoje, lá em Brasília e demais rincões do meu querido Brasil,
aqui em Sampa, enfim, todos madrugaram para o desfile cívico/
militar numa ilusão de ótica pra inglês ver. Hoje não cantarei o
Hino Nacional, antiquado e parnasiano; cantarei "Aquarela do
Brasil" e até "Sampa do Caetano", embora eu o deteste.
Espero que o Lula saiba o hino de cor e alguém tenha escrito
seu discurso que deve ser transmitido em cadeia nacional.
Cadeia!, hum! que palavra linda e sonora! Ah, meu querido país,
olhai os lírios do campo... vejam, estão murchos... mas ainda
brotarão. Ah, meus brasis, sou tão patriota, mas esta porra
de desfile me parece um carnaval temporão. Ah, os elogios
guardarei para outra ocasião. Hoje estou me sentindo o marido
traído pela mulher adúltera.
**************************************************
Deixo aqui um poema que escrevi em 1978. Eu envelheci, ele não.
Nessa época eu consumia enlatados, era cabeludo e fã de Beatles, Stones,
anarquista, pois sabia que meu país era piada no exterior.
CONQUISTA
A marca, a fibra
Passos já pisados, a dor
Sou pedaço de estrada, um nada
Anônimo sonhador.
A marca, a fibra
Nos atos, nos fatos
Paraíso sem relatos
O governo, o estado
De pobres, bárbaros
O meu
A máquina elitista
À conquista
Do que penso me pertencer.
A marca, a fibra
A mão
Do sistema que diz não
A um ideal
Porque sou na verdade
Pedaço de estrada, um nada
Fonte que há de verter
Trago de memória uma história
E de presente o verbo ser.
(1978)
O príncipe regente D. Pedro hoje bradaria à sua comitiva
"dependência e sorte!", às margens de um riacho do Ipiranga
totalmente poluído na desurbanização do entorno entre
cortiços, favelas, prédios onde residem, pasmem! até paulistas.
Aí, entraria num dos veículos oficiais de chapa branca, pagos
pelos tributos do povo, e sairia em carreata ao aeroporto
de Congonhas pra outra capital com seus puxa-sacos
sanguessugas tremulando bandeirinhas vermelhas de uma
oposição inexistente. Viva o Brasil! Viva! Viva os privilégios,
as aposentadorias gordas dos que mantiveram as benesses
dos tempos das capitanias hereditárias. Hoje, lá no Ipiranga,
tem um grande marco, uma grande praça onde vejo desocupados
darem milho aos pombos, famílias empunhando câmeras fotográficas,
celulares que tiram fotos, e alguns espichados lendo um livro.
Acho que, desde o grito, houve uma centralização e migração
de povos para São Paulo; em consequência vieram às indústrias,
mais povos estrangeiros, que abarrotaram o paraíso paulista.
E trouxeram os prós e contras de uma invasão pacífica. Agora,
em 2010, vejo pessoas como formigas indo e vindo, invadindo
áreas de manancial, construindo ali seu barraco e expandindo
às queimadas, cortando a mata como saúvas, abrindo clareiras
na desnatureza em curso. Fazer o quê? Hoje, o MST está
na estrada com os olhos cegos do governo. Aproveitadores
anexam fazendas (ditas improdutivas), constroem ali uns barracos,
ganham seu pedaço de chão, depois os vendem e voltam pra
estrada. Acho que a terra, na verdade, não é de ninguém, mas
devia haver um plano sério de assentamento para pessoas
trabalhadoras e sérias. Por outro lado, noto que no meu país
tudo é feito nas coxas desde o famoso "grito". Somos, hoje,
a oitava economia do mundo e a previsão é a de que em uma
década seremos a quinta. Hoje, aceitamos que uma Bolívia da vida,
anexe uma usina de gás sem a mínima satisfação. Ah, e os "bunda
mole" lá da maior indústria deficitária do país, Brasília, enfiaram
o rabo entre as pernas, afinaram, com se diz na gíria.
Ah, se fosse com os Estados Unidos... Nesse ponto invejo
os gringos que tem leis que funcionam sem acepção de
pessoas, que têm o saco roxo, e vergonha na cara.
Cadê os militares, pergunta-me um cara. Respondo,
com jeitinho brasuca, que devem estar preocupados com suas
aposentadorias vitalícias, que devem estar arquitetando um
plano de proteção bélica à Amazônia e Pantanal, invadidos
por extrativistas de madeira nobre, por laboratórios japoneses,
americanos e outros que (não é piada), patenteiam, na fauna e na
flora, produtos só encontrados por estas bandas. É o cúmulo!
Hoje, lá em Brasília e demais rincões do meu querido Brasil,
aqui em Sampa, enfim, todos madrugaram para o desfile cívico/
militar numa ilusão de ótica pra inglês ver. Hoje não cantarei o
Hino Nacional, antiquado e parnasiano; cantarei "Aquarela do
Brasil" e até "Sampa do Caetano", embora eu o deteste.
Espero que o Lula saiba o hino de cor e alguém tenha escrito
seu discurso que deve ser transmitido em cadeia nacional.
Cadeia!, hum! que palavra linda e sonora! Ah, meu querido país,
olhai os lírios do campo... vejam, estão murchos... mas ainda
brotarão. Ah, meus brasis, sou tão patriota, mas esta porra
de desfile me parece um carnaval temporão. Ah, os elogios
guardarei para outra ocasião. Hoje estou me sentindo o marido
traído pela mulher adúltera.
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Deixo aqui um poema que escrevi em 1978. Eu envelheci, ele não.
Nessa época eu consumia enlatados, era cabeludo e fã de Beatles, Stones,
anarquista, pois sabia que meu país era piada no exterior.
CONQUISTA
A marca, a fibra
Passos já pisados, a dor
Sou pedaço de estrada, um nada
Anônimo sonhador.
A marca, a fibra
Nos atos, nos fatos
Paraíso sem relatos
O governo, o estado
De pobres, bárbaros
O meu
A máquina elitista
À conquista
Do que penso me pertencer.
A marca, a fibra
A mão
Do sistema que diz não
A um ideal
Porque sou na verdade
Pedaço de estrada, um nada
Fonte que há de verter
Trago de memória uma história
E de presente o verbo ser.
(1978)
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