sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A detetive.

A detetive.

Eu jamais me casaria ou teria um romance  com uma detetive de olho vivo e faro fino.
Porque, tô até vendo -  quando eu estiver dormitando - ela pegará
seu acessório de trabalho, a lupa, e irá examinar meu pimpolho nos mínimos
detalhes  para ver se encontra algumas esfoliações e, por coseguinte, a prova do crime.
E também, pense você, caro leitor,  naquela marca de baton, fruto de um ato solidário,
em que eu atravessar a velhinha na avenida e por acaso receber umas beijocas em agradecimento e,
sem querer, desnotar aquela mancha de batom colorido na gola da camisa. Ah, e aquele
fio de cabelo comprido grudado no palétó. Hum, é caixão e vela preta, é a prova do crime.
Trabalho numa repartição e coordeno uma equipe de mulheres 'telemarketistas' no setor de cosméticos.
Vira e mexe, por eu ser muito legal, imparcial e cultor da alma feminina, recebo lembrancinhas, cartões de época, e sou tocado e abraçado a cada final de expediente. Tá lá a minha amada detetive, com sua lupa
analisando minhas camisas... mas até eu explicar pra ela que tomada não é focinho de porco, já tomei uma enrabada daquelas, a seco, sem direito a advogado. Sem falar nos perfumes. Gozado, como mulher tem faro apurado para aromas... Pô, e todo caso que ela pegasse, eu teria que escutar suas ladainhas e possibilidades e, até na hora de dar umazinha, saberia que ela está destrinchando uma prova qualquer e renegando o orgasmo a segundo plano. Imagina se ela for louca por novidades tecnológicas: com certeza instalaria micro-
cãmeras nas minhas cuecas. E se ela tiver o hábito de  passar telefonemas frios só pra saber de minha índole e começar a me perseguir, por puro divertimento, com uma câmera espiã de longa distância... Sei lá: Uma janela indiscreta, tipo 'Hitchcock', Um corpo que cai... Ufa! que relacionamento mais insólito: uma detetive
possessiva que cuida de  seus bens... E os disfarces? Já pensou eu trombar no meio da rua com ela num disfarce masculino e de passagem ela me disser: 'olá gostosão, tem algo interessante pra fazer?' Não dá.
É por essa e por outras que jamais me casaria com uma detetive. Tenho certeza que na hora  que ela tivesse a fim de me dar o fora, simularia provas conclusivas contra mim e me provaria por a+b que tenho
culpa no cartório, que eu não presto, e que muitas vezes viu-me masturbando não pensando nela, mas nas meninas lá da empresa; na que me dixou as marcas no colarinho, na do perfume barato que ela não se lembra de tê-lo usado num dia de furor em que comemorávamos nossa feliz união.
(Com certeza, se bem eu conheço mulher, meu ato solidário estaria descartado). Tô aqui pensando
que eu poderia usar os mesmos artifícios dela. Eu poderia passar um pente fino em cada passo que ela desse... não... não... o relacionamento tornaria-se uma disputa de quem pode mais: o homem ou a mulher.
Ah, mas eu teria que fazer um cursinho, mesmo que por correspondência, com diploma e coisa e tal
naquela escola de um parente distante do 'Sherlock Holmes'.  Ei, preciso mandar dedetizar minha casa,
preciso passar minha roupa, lavar os pratos, o chão.  Conheci, agorinha, uma investigadora
na internet que está à procura de um homem liberal, dono de casa, que todo dia  a espere  chegar
no portão bem cheirosinho e com a comida na mesa. Será que topo esta parada? Sei não...
esta inversão de valores... mulher-presidente, mulher isso, mulher aquilo... Nós, homens, precisamos nos cuidar... elas estão querendo dominar o mundo, ser a chefe da casa. Se bobear nem precisarão mais de nós.
Do jeito que têm o tino pra desvendar o cotidiano, em sendo visionário, logo nos encomendarão
em lojas franquiadas com o preço numa placa dependurada em nossos pescoços.
Eu jamais teria um romance ou me casaria com uma detetive. Enquanto eu iria com o milho,
ela estaria voltando com o fubá e diariamente fazendo uma devassa em meu interior. Opa!
O maldito laxante que tomei esvaziou meu cérebro! Deixa eu focar minha lente lá no prédio:
em algum dos andares deve ter uma gostosa saindo do banho... se ela me der um tchauzinho, ah!
vou começar uma paquera à distância. Sinto-me um agente secreto domiciliar... credo em cruz!



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