Quando tenho uns trocos fico meio filantropo,
histérico 'ao tudo ao mesmo tempo agora'.
Penso nos bebês com sede láctea e na garota
que me pediu 1 real. Me isolo de tudo como se
fosse a última vez que eu tivesse uns trocos.
Coisa de pobre dizem os afortunados, acostumados
a estes raros momentos. Acho que a piedade reside
em mim como um animal feroz, indomável, que foge
duma cela à busca de seu habitat impossível. Quando
volto à jaula, sem grana, junto-me aos que, na multidão,
quiseram viver com meus míseros e efêmeros sorrisos.
Morro de pena de mim quando, no primeiro trem,
centenas de jovens desembarcam após suas baladas,
e me desnotam apenas por eu me achar o cara mais
imprestável do mundo, que transou com uma fulana
num hotel pulguento de beira de estação pra enganar-se
mais uma vez e recuar no tempo em que uma dose de
uísque e um baseado não me deixavam chorar pela
pobreza humana. Só a vida me ensina que, pra ser um
seguidor da felicidade, hei muito de chafurdar na merda.
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